sábado, 26 de outubro de 2019

29-CORRENTE-CAVERNA

29-CORRENTE-CAVERNA

Sou um pensador, mas não livre, nem pretendo ser. Tenho consciência do meu cárcere, porém, isso não me liberta. Estou acorrentado à cultura como os outros sujeitos na caverna de Platão.

Ser um ermitão dá um pouco de liberdade humana, mas não física.

Se eu fosse livre não seria físico, químico nem biológico, talvez morasse nas idéias iluminares de outro pensador. Sei que sou cego, assim como toda a humanidade. Tal qual o resto, não sei nem o que é um átomo de luz, apenas creio na Lei de Lavoisier. Cortaram-lhe a cabeça, que pena!

Talvez nunca antes ou depois na História tenha-se visto uma mente mais brilhante que a dele. Não creio em gênio, sou radical e vejo os podres da elite com desprezo, mas tudo o que eu mais queria era ter conhecido esse aristocrata cobrador de impostos.

Desejo ver os pensadores do Brasil tendo sucesso, principalmente os do Ceará. Ainda não gosto de Português, ainda mais depois da reforma-ortográfica, todavia, um antagonismo em mim faz-me admirá-los, pensava outrora que nunca diria isso, primeiro porque os lusitanos no século II a.C., governados por Viriato, resistem à Roma.

Segundo, pelo simples fato de serem celtas, posso sentir orgulho disso porque admiro esse povo de muita força, coragem e sabedoria. Mesmo que a maior parte deles aqui fossem a escória e apesar de terem dizimado os ditos "índios" num continente a que chamou-se América, povo do qual também tenho orgulho de descender, principalmente dos ditos "tapuias", da guerra dos bárbaros; ser descendente de português me faz sentir um celta, não poderia jamais gozar de maior alegria e orgulho de mim mesmo.

Conhecimento esse adquirido graças a Pedro Bandeira, a quem admiro três vezes; pelo artigo "Asterix existiu e era português", pelo livro "Feiurinha" e pela palestra que assisti antes de saber de quem se tratava o palestrante.

E terceiro, porque um grande pensador atual chamado António Damásio, neuro-cientista ateu, e primeiro português de fato que admirei pela inteligência, depois de lê-lo as piadas de português perderam a graça e passei a ter orgulho de descender do mesmo povo que gerou mente tão brilhante.

O tempo poderia ser dividido entre antes e depois de Damásio; ele ajudou-me a entender um pouco mais de como o cérebro funciona e como provar que o sentido gerou sentimento e esse a razão, idéia que já vinha desenvolvendo antes de conhecê-lo mas não tinha instrumentos físicos da medicina para provar, fez mais que isso, provou ainda que razão não existe sem sentimentos e diferencio este de emoção.

Damásio é o sujeito que eu chamaria de "gênio", embora pra mim esse tenha sido o maior defeito do positivismo de Augusto Comte, a ideia de que existem "gênios" inalcançáveis, não creio nisso, contudo, esse português me faz pensar melhor a esse respeito. Esse português é a mente de hoje.

Se Aristóteles foi "O FILÓSOFO", Damásio é O CIENTISTA. Desbancar Descartes de forma tão racional e ao mesmo tempo compreensível a todos, incluindo a mim, não é pra qualquer um.

Sentir-me um celta faz-me aproximar mais ainda de Darwin, pensador que procurei quando senti o real vazio da existência: não ter idéias.

Outros britânicos que admiro muito, são: Dr. Nigel Spivey, historiador ateu que se aprofunda nas razões pelas quais a arte domina e molda o mundo física e intelectualmente; e Terry Jones, País de Gales, antropólogo ateu que me ajuda a entender mais sobre os ditos "bárbaros", embora com o efeito-colateral de odiar Roma, o que posso fazer? Tenho que escolher uma vertente histórica como disse Bóris Fausto. De estadunidense, admiro Carl Sagan, pelo conhecimento astronômico e histórico que ostentava.

Também admiro Lord Nelson, almirante britânico que derrotou Napoleão, mesmo morrendo. Aconteceu como na lenda árabe, que o brasileiro Malba Tahan relembra, em que o rei perde o príncipe e, em função disso, ganha a batalha. Lord Nelson morto inspirou suas tropas a vencerem Napoleão, assim como naquele filme "Harry Potter e a pedra filosofal" em que a rainha é sacrificada abrindo caminho para o xeque-mate do bispo.

Dentre os precursores dos franceses, admiro, através do personagem Asterix de Uderso e Gosciny, Vercingetórix, por derrotar César em campo aberto, ser um grande líder e pela reforma escrita que promoveu entre os celtas da antiga Gália. Pena que sua cabeça foi cortada também. É outra figura que gostaria de conhecer pessoalmente, ou ser um de seus soldados quando todos os celtas marcharam juntos para atacar Roma, sob o seu comando.

Se carecemos de heróis, eis aí os meus. Outros são: Aristarco de Samos, Copérnico, Ptolomeu e talvez o maior em sua época, Arquimedes, um inventor grego fenomenal, talvez inspirado no oriente, que provou a eficiência de seu raio-da-morte, criara a balança e, talvez, o mecanismo de anticífera, um instrumento esotérico que calculava o local de estada de alguns astros no universo no tempo passado, presente e futuro, cria também o primeiro relógio-cuco do mundo. Sem falar nos chineses como inventores ainda melhores que Arquimedes.

Nenhum pensador foi ou será livre. Voltaire e Marx eram expulsos por onde passavam. Kant, Rousseau, Locke, Galileu, Da Vince, Empédocles, Eratóstenes, Confúcio e outros nem lembraram dos escravos, como se eles fossem seres subumanos. Ipárcia, Jordano Bruno, Lavoisier (a ciência em pessoa) e outros que ousaram pensar de fato foram assassinados pelo poder.

Enforcaram a mãe de Kepler, não reconheceram Galileu por 600 anos após sua morte. Os intelectuais do Brasil, como os padeiros, por muito tempo foram e ainda são esquecidos e as idéias de Epicuro ainda hoje não foram compreendidas.

A humanidade é cega e está presa, mas saber disso não nos liberta. Pelo contrário, a coleira só aperta e coça, mas é inquebrável. Somos escravos dos nossos próprios pensamentos torpes. Mesmo acorrentado na caverna de Platão, sem um Neo de "Matrix" para travar uma trégua entre homens e máquinas, o que Taylor jamais aceitaria. Sem a espada de Arsène, só me resta ser questionador.

Questionar é a única liberdade neste mundo. O que ainda não é ser livre, pois liberdade, de fato, no sentido stricto sensu da palavra, não existe.

Posso discordar de Kant, do big-bang, dos multiversos de Stephen Holking, da metafísica de Einstein, do buraco-de-minhoca e de outros mitos da ciência, Filosofia e religião, sendo mais radical até, quem sabe, que os iluministas, que Lévi-Strauss, Freud, Nietzsche Deleuze, Sânzio de Azevedo e Leonardo Boff, mas nunca passarei de um pensador acorrentado.

Sou escravo da razão, rumino idéias como os animais que digerem mal a comida. Procurar a Verdade é tatear no escuro, é um vício incontrolável e destrutivo. Nunca se encontra o que se gosta ou quer, mas a sua curiosidade não o permite parar.

A razão é o alcoolismo das minhas sinapses. Se parar duma vez eu morro. Entretanto, gostaria de abandoná-la ao deus-dará pra não negar todas as minhas convicções como sempre ocorre.

A razão é um porre do qual nunca se seca o copo do saber e a curiosidade é a maldita vontade que te escraviza. Ser um questionador como eu é estar preso à verdade, ora é emocionante, ora profundamente enfadonho.

Por que Não posso abandonar a razão em um canto e cortar essas correntes, pelo menos as racionais, já que todas é impossível e elas apertam mais que as outras?

ATEU POETA
2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário